Nas últimas duas décadas, o Brasil vivenciou o surgimento de um novo tipo de organização: o Terceiro Setor. Essas entidades, preocupadas com questões como meio ambiente, saúde, educação, assistência social e direitos humanos, não se encaixavam nas tradicionais classificações de instituições públicas ou privadas. Elas não se limitavam a prestar serviços públicos, tampouco buscavam lucro como as empresas.
O conceito de ente intermediário entre o Estado e o mercado, atuando na provisão de bens e serviços de interesse público para amplos segmentos da sociedade, abrange tanto as ONGs (Organizações Não Governamentais), que se destacaram na década de 1980 por sua luta em defesa do meio ambiente e dos direitos humanos, quanto as fundações e associações mais antigas, que se identificam com a filantropia empresarial e com movimentos sociais de base, e hoje as sociedades civis.
Apesar da dificuldade em quantificar e sistematizar dados, é inegável expansão e o espaço político e econômico que as sociedades civis vêm ocupando, inclusive na geração de empregos. Destaca-se também o estreitamento das relações entre as entidades sem fins lucrativos e o Estado, reconhecendo-as como interlocutores consistentes na “experimentação de novos modos de pensar e agir sobre a realidade social”, como definiu a socióloga Ruth Cardoso, no livro Fortalecimento da Sociedade Civil.
Essa aproximação se insere no contexto da crise do Estado provedor, que busca por modelos alternativos de implementação de políticas sociais. A transformação das sociedades rumo a contextos democráticos, buscando novas formas de participação social e accountability no uso de recursos públicos, também contribui para o crescimento do Terceiro Setor.
No Brasil, a expansão do Terceiro Setor é, em parte, fruto da redemocratização do país, que contribuiu para a capilarização e o amadurecimento de iniciativas da sociedade civil, e da crescente incorporação de noções como a responsabilidade social.
O cientista político Marco Aurélio Nogueira destaca com muita objetividade que, “a acelerada modernização econômica e social das últimas décadas promoveu uma inédita diferenciação sociocultural, multiplicou os interesses e estimulou a constituição de uma expressiva rede de organismos e associações encorpada, complexa e com grande potencial político, mas alimentada pela convicção de que se faria a si mesma na medida em que se diferenciasse e se opusesse, como um alter, ao Estado”.
O Terceiro Setor se apresenta como uma força invisível transformando a sociedade brasileira. Seu papel na solução de problemas sociais, na promoção da participação cidadã e no avanço da democracia é cada vez mais relevante.